Entre Correntezas e Oceanos
"Entre Correntezas e Oceanos" (2021) é centrado na minha experiência e entrega a um puerpério recente, principalmente em relação à amamentação. Gestei, pari e comecei a criar meu filho em meio à pandemia do coronavírus no mundo, morando no Brasil, o que torna tudo ainda mais intenso. A fase da exterogestação (os três primeiros meses do bebê) é um grande desafio; tudo é muito novo, estamos aprendendo junto com um serzinho que até pouco tempo atrás estava dentro de um líquido escuro e quentinho. Além disso, os hormônios estão desordenados, os dias são, muitas vezes, solitários e a amamentação é um desafio à parte. Dentre várias questões, uma específica teve uma dimensão particularmente dolorosa na minha história: meu filho teve muita dificuldade de ganhar peso nos dois primeiros meses de vida, o que nos levou a ter que administrar fórmula como um complemento pra que ele pudesse se desenvolver de forma saudável. Isso gerou em mim inúmeras dores; sendo vegana, dar ao meu filho leite de vaca foi, de certa forma, violento. Mas os sentimentos de fracasso e insuficiência imperavam dentro de mim como uma tempestade feroz, que resvalava de forma brutal nas minhas relações, sobretudo com meu parceiro. Foram semanas turbulentas, com pequenos respiros de mar calmo quando dávamos a mamadeira pro meu pequeno – o que gerava em mim outra pontada de angústia e medo de um desmame precoce.
Surge, então, uma urgência em registrar alguns momentos e objetos significativos e simbólicos deste período. Imagens que dissessem um pouco sobretudo dos sentimentos aflorados neste processo. A solidão de um choro desesperado de um neném com fome. O choro compulsivo de uma mãe frustrada pela imperfeição da vida. O aconchego de um companheiro que abraça a cria com um cuidado selvagem. Uma vez escutei que puerpério é líquido puro, é fluir, mas também chorar, sangrar, derramar. A partir disso, caminhei nessas águas, traçando paralelos entre objetos e natureza através de dípticos que inundam as imagens de sensações.
"Entre Correntezas e Oceanos" is centered on my experience and delivery of a recent postpartum period, mainly in relation to breastfeeding. I conceived, gave birth and started raising my son in the midst of the coronavirus pandemic in the world, living in Brazil, which makes everything even more intense. The exterogestation phase (the baby's first three months) is a great challenge; everything is very new, we are learning together with a little being that until recently was inside a warm, dark liquid. Furthermore, hormones are disordered, the days are often lonely and breastfeeding is a separate challenge. Among several issues, one specific had a particularly painful dimension in my story: my son had a lot of difficulty gaining weight in the first two months of his life, which led us to have to administer formula as a supplement so that he could develop properly and healthy. This caused me countless pains; as a vegan, giving my son cow's milk was, in a way, violent. But the feelings of failure and insufficiency reigned inside me like a fierce storm, which took a brutal toll on my relationships, especially with my partner. These were turbulent weeks, with small breaths of calm seas when we gave my little one a bottle – which generated another pang of anguish and fear of early weaning in me.
An urgency then arises to photograph some significant and symbolic moments and objects from this period. Images that said a little about the feelings that emerged in this process. The loneliness of a hungry baby's desperate cry. The compulsive crying of a mother frustrated by the imperfection of life. The comfort of a companion who embraces the child with wild care. I once heard that puerperium is pure liquid, it's flowing, but also crying, bleeding, spilling. From then on, I walked in these waters, drawing parallels between objects and nature through diptychs that flood the images with sensations.